De Zero a Cem

Dia 699


Quando entrei na universidade a dois anos não tinha muita consciência do papel que passaria a exercer enquanto acadêmico. Além de ser muito jovem e inexperiente (ainda sou, em certa medida), passei grande parte de minha vida escolar acreditando que aquele era um local cujo maior propósito era abastecer o mercado de trabalho com bons profissionais. Estava enganado.

Logo no primeiro mês de aulas, participando de eventos preparados para a recepção de calouros, um dos palestrantes conseguiu capturar minha (bem dispersa) atenção ao falar do tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão, base das universidade aqui no país. Quem estudou (ou estuda) em uma já deve ter escutado essas palavras várias vezes, mas poucos tem consciência do compromisso que tanto os alunos, quanto professores e servidores, principalmente das instituições federais devem ter com essas atividades. A sociedade que paga os pesados impostos que sustentam o sistema educacional brasileiro quer mais que uma educação de qualidade formadora de técnicos. Ela espera soluções. Inovação.

Já estou a algumas semanas conversando com alguns calouros pelo orkut e recebo constantemente - mais até que no ano passado! - várias perguntas na minha página de recados que de certa forma giram em torno do mesmo assunto: porque fazer Jornalismo em Viçosa? A primeira parte da minha resposta não assustou a maioria justamente porque a situação de vários é muito parecida com a minha, quando ingressei no curso há dois anos; Não foi bem uma escolha. Logo em seguida, falo que mesmo com a disparidade de investimentos (vou falar mais disso ainda esse ano por aqui!) que padece um curso de apenas 8 frente aos mais de 80 anos de tradição agrária da universidade, o corpo docente esse ano estará completo, tendo pelo menos um professor efetivo por área.

O ponto chave dessas conversas que tenho é quando pergunto o que eles querem ao cursar uma universidade. Entre as mais variadas respostas, consegui encontrar um eixo comum. Como aqui no blog falo principalmente de jornalismo, me restringirei a exemplos do que as pessoas querem com esse curso (mesmo que isso possa ser aplicado a outros). A resposta? Conhecimento, know-how e profissão, sendo essas coisas diferentes, podendo ser complementares ou não.


Eu quero a Profissão

A grande maioria quer a profissão. Justificam que nasceram comunicativos, possuem  facilidade de falar em público e almejam posições de destaque na velha mídia. Esses são ainda usuais clichês que mesmo eu repetia a vários de meus amigos desde o ensino fundamental. O que os falta portanto para serem exímios comunicadores segundo os padrões é a técnica; por isso, decorem os manuais de redação dos grandes jornais, aprendam a falar no microfone sem soprar, como se portar frente uma câmera, como tratar uma fonte oficial... aprendam as técnicas, os modelos, os padrões. Frequentem também um bom curso de língua francesa, espanhola ou chinesa, porque inglês você a essa altura já deveria ser fluente.

O que o Ensino hoje nas universidades faz muitas vezes é isso. É basicamente doutrinador, graças ao sistema que privilegia resultados baseados em avaliações cujos critérios são pra lá de questionáveis. Assim, esse sistema acaba por não medir o conhecimento que cada um tem, mas sim o quanto o aluno consegue emular o profissional que o mercado quer (?). É importante ressaltar que o sucesso do graduado no entanto depende de outros fatores alheios a sua formação universitária...

Dessa forma, concordo com o que alguns ao ler esse texto poderão questionar: todo bom jornalista deve ter além de técnica, cultura! Isso é mais que claro, porém essa provém da capacidade que cada um tem de agregar informações ao longo da vida, muito mais do que qual universidade ele frequenta(rá) por 4 anos. É mais ou menos com esse pensamento de que cada um tem uma bagagem muito própria, que alguns tem defendido cursos de Jornalismo de 2 anos. Assim, o que se aprenderia nesse tempo? Técnica. E ratificando o que disse lá em cima, não é bem isso que nossa sociedade precisa agora.

Na segunda parte desse artigo, vou discutir a questão do Querer Conhecimento, apontando entre outras reflexões, os dilemas que o jornalismo está enfrentando. Na terceira e última parte, falarei um pouco sobre a minha visão de Know-how, do porque e principalmente de como aplicá-la à profissão que escolhi.

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