Dos dois pontos aos parênteses: identidade visual do programa se renova em conjunto com o formato |
Ele fez de novo! Pedro Bial retorna com o programa (Assunto) - sim, agora com parênteses no lugar dos dois pontos - e renova ainda mais seu formato, que já era bastante inovador como falei no início desse ano.
Nesse segundo episódio, exibido na Globo News no último dia 6 desse mês, o jornalista se propõe a investigar, reencenar e debater a invenção dos dribles no futebol.
Nesse segundo episódio, exibido na Globo News no último dia 6 desse mês, o jornalista se propõe a investigar, reencenar e debater a invenção dos dribles no futebol.
Diferente do piloto apresentado no fim ano passado, que partia de várias fontes para discutir a busca da vida eterna, em Dribles somos apresentados a um personagem chave que conduz toda linha narrativa da história que o programa vem nos contar.
Exatamente isso que você leu! (Assunto) inverte a lógica científica e rigor das apurações jornalísticas, que guiaram o tom do episódio anterior, para literalmente nos colocar em uma sinuca de bico ao fazer o telespectador se questionar qual é a validade dos argumentos apresentados no próprio programa. Confundiu? Calma aí que eu explico!
Na história nosso herói é Vitor Lopes, cineasta africano radicado no Brasil desde 13 anos que em uma pesquisa para um filme esbarrou com indícios de que o drible seria uma invenção puramente brasileira.
A justificativa é uma teoria de sua autoria que se sustenta em uma suposta regra do antigo futebol de várzea brasileiro, que impedia os juízes de marcarem faltas feitas e sofridas por negros durante as partidas.
Na tentativa de evitar os contatos corporais, o negro teria então usado todo seu - como disse uma das fontes no programa - "balacobaco", e assim incorporado passos do samba, da capoeira e outras raízes africanas no tal movimento. Fez a conexão?
Pra completar os links, Vitor é craque no futebol de mesa, o popular botão [#faustãofeelings], fechando o ciclo futebol-africanidades-negros em que se sustenta o programa.
A partir daí, Bial viaja junto com o telespectador por uma série de dramatizações e reconstruções históricas que misturam desde esquetes dos humoristas Hélio del La Penã e do Maurício Ricardo (não podia faltar ele, claro!), passando por passagens poéticas narradas pelo jornalista, culminando em offs com fotos e vídeos, que abusam de imagens de arquivo, narrados pelo ator Hugo Carvana, pai do diretor desse episódio, Pedro Carvana.
Nova vinheta do programa explora a velha e surrada máquina de escrever em animação digital |
Exatamente isso que você leu! (Assunto) inverte a lógica científica e rigor das apurações jornalísticas, que guiaram o tom do episódio anterior, para literalmente nos colocar em uma sinuca de bico ao fazer o telespectador se questionar qual é a validade dos argumentos apresentados no próprio programa. Confundiu? Calma aí que eu explico!
O cineasta Vitor Lopes é o personagem principal do qual o programa extrai todas as conexões |
A justificativa é uma teoria de sua autoria que se sustenta em uma suposta regra do antigo futebol de várzea brasileiro, que impedia os juízes de marcarem faltas feitas e sofridas por negros durante as partidas.
Na tentativa de evitar os contatos corporais, o negro teria então usado todo seu - como disse uma das fontes no programa - "balacobaco", e assim incorporado passos do samba, da capoeira e outras raízes africanas no tal movimento. Fez a conexão?
Pra completar os links, Vitor é craque no futebol de mesa, o popular botão [#faustãofeelings], fechando o ciclo futebol-africanidades-negros em que se sustenta o programa.
A partir daí, Bial viaja junto com o telespectador por uma série de dramatizações e reconstruções históricas que misturam desde esquetes dos humoristas Hélio del La Penã e do Maurício Ricardo (não podia faltar ele, claro!), passando por passagens poéticas narradas pelo jornalista, culminando em offs com fotos e vídeos, que abusam de imagens de arquivo, narrados pelo ator Hugo Carvana, pai do diretor desse episódio, Pedro Carvana.
Mesmo partindo de uma teoria que em um primeiro momento parece estapafúrdia, tudo é muito bem calçado em fatos e documentos, seguindo os elementos que já fazem parte do formato do programa - um mix de gêneros que fundem com precisão o jornalismo, a arte e o entretenimento.
Vitor é também um personagem extremamente carismático, pelo qual inclusive o telespectador chega a a quase torcer em alguns momentos; quando os convidados de Bial questionam e fazem ressalvas sobre a teoria durante um debate - elemento narrativo guia que também retorna nesse segundo episódio.
Entre os debatedores temos um cronista esportivo, um sociólogo, um músico e uma ex-jogadora de Volei; escolhas (na minha opinião) nada óbvias como em outras mesas redondas de futebol, o que também servem como elementos de ruptura dos paradigmas jornalísticos. É justamente nessa diversidade de opiniões que o público se ancora para construir sua opinião.
O cenário
Mais do que um diferencial no approach da narrativa de (Assunto) para com seu antecessor Assunto:, talvez uma dos maiores avanços, seja o estabelecimento de um cenário único para programa. Enquanto o piloto percorreu as ruas, laboratórios e casas dos personagens, em Dribles o Maracanã é o grande palco da ação.
Além de facilitar o retorno a um ponto comum entre as esquetes que montam o programa, a ousadia das câmeras e da ambientação impressiona o telespectador de tal forma que o cenário montado estádio se torna mais um personagem.
O apresentador e o personagem chave ficam ao centro do gramado, separados por uma mesa de futebol de botão, envoltos aos equipamentos e da equipe de filmagem do programa no formato de um parênteses ( ) gigante.
É uma pegada meio bastidores que revela uma transparência absurda, só comparada ao que assistimos por aqui no país nos programas Profissão Repórter da Globo e A Liga da Bandeirantes.
Há também outros elementos como um convidado especial, o uso de tipografia e o narração em off pelo próprio personagem que vou deixar para vocês apreciarem quando forem assistir o programa, para não estragar as surpresas que (Assunto) reserva.
Mesmo tendo apenas 22 anos, e pelo menos 10 desses estando ligado no mundo do jornalismo, tenho certeza de que Pedro Bial encontra-se em seu melhor momento de carreira. Muito mais que o formato, a performance do jornalista no programa mostra sua afinidade com as temáticas que trata, uma confiança no jeito de falar e uma identidade única que lhe confere as habilidades necessárias para fazer do (Assunto) um programa que só ele conseguiria fazer.