Mais como uma reflexão do que uma análise fundamentada em grandes teóricos da área, escrevo hoje em um exercício de auto-crítica. Muitos dos que acompanham minha trajetória sabem do meu olhar viciado pelo Digital, suas possibilidades e promessas.
Foto: Steve Rhodes
Não sei se foi o pouco contato com os diários impressos na adolescência - fase decisiva para escolher a profissão que estudo hoje - ou talvez a minha paixão pela linguagem do audiovisual.
Poderia apontar aqui vários fatores, inclusive ecológicos (afinal tá na moda, não é mesmo?), do que não me agrada no papel. No entanto, no post de hoje farei um esforço para convence-los do inverso: o que o Impresso faz que o Digital (ainda?) não consegue fazer?
Meu primeiro contato com o tal fazer jornal foi no 4º período quando cursei uma das disciplinas responsáveis pelo jornal-laboratório do curso. Desde a elaboração das pautas, a redação e edição das matérias, passando pela diagramação do jornal até a finalização na gráfica.
Mesmo a atividade sendo essencialmente prática, a disciplina nos permite em vários momentos refletir sobre as funções do veículo impresso; reflexões essas pouco (ou quase nada, pelo menos é o que dizem!) possíveis no corre-corre das Redações, não é verdade?
Foi a partir de anotações feitas há mais de um ano em sala de aula e de algumas opiniões construídas nesses últimos anos de curso que vou desenvolver três fatos do que se faz com e no Impresso que ainda não conquistamos na mídia digital. Os vários outros vou deixar para vocês comentarem no nosso espaço de discussão aí em baixo, não deixem de participar e fazer um blogueiro feliz.
Fato 1 - Agenda: o poder de influenciar os debates na sociedade
É inegável que mesmo com o crescimento dos veículos dedicados ao jornalismo online, e por consequência um aumento no número de repórteres exclusivamente envolvidos na atividade, o Impresso ainda dá as cartas em qualquer lugar do mundo.
As reportagens que movimentam o cenário político internacional, a divulgação de pesquisas científicas que revolucionam a medicina e até mesmo as últimas tendências do mundo da moda saem primeiro na mídia impressa.
Seja no New York Times, na Superinteressante ou na Vogue Americana, todos com extensiva presença online, o conteúdo original mostra sua cara primeiro no veículo impresso e isso faz toda diferença. Esse privilégio tem origem e consequência.
Mesmo com as últimas tentativas do NYT em monetizar seu site, a verdade é que somente as assinaturas não sustentam Redações. E os anunciantes investem pesado mesmo é no meio impresso.
Com a receita que financia essas marcas tendo sua maior fatia advinda de anúncios no papel, nada mais justo (ou lógico?) que o conteúdo exclusivo e que atrai os leitores pagantes (sejam assinantes ou de banca) apareça primeiro por lá.
Com essa prioridade na divulgação de informações únicas, acredito que vamos passar ainda uns bons anos ouvindo o argumento-fim que enche a boca dos críticos: "a internet só repercute o impresso".
Obviamente, como muitos de vocês poderiam apontar, a Rede amplifica sim o alcance das temáticas trabalhadas em reportagens, bem como solidifica argumentos de filósofo-de-bar-discutindo-política. No entanto, quais são suas origens? As cabeças pauteiros, repórteres e colunistas que trabalham, prioritariamente, para o papel. Pelo menos, por enquanto...
No próximo post sobre esse mesmo assunto vamos conversar sobre como a credibilidade de um veículo pode estar ligada à sua identidade visual. Não deixe de conferir a segunda parte (no ar!) de O que o impresso faz que o digital (ainda) não consegue fazer assinando o feed, seguindo o Twitter ou aparecendo aqui no domingo que vem.